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  • Diego Flaresso

Como o carbono se torna um crédito?

É amplamente conhecido que um crédito de carbono representa a emissão de uma tonelada de dióxido de carbono (CO₂) evitada ou removida da atmosfera. No entanto, o processo de transformar essa emissão em um crédito de carbono é algo que poucos compreendem em detalhes. Felizmente, a GSS está aqui para esclarecer esse processo!


Definição da unidade de medida 


A ação de evitar, reduzir uma emissão, ou remover gases de efeito estufa pode ser descrita como descarbonização. O carbono, na forma de dióxido de carbono, é utilizado como uma simplificação para representar todos os gases de efeito estufa, que contribuem de maneira distinta para o aquecimento global. Por exemplo, o metano tem um potencial de aquecimento global de aproximadamente 28 vezes maior que o do CO₂. Portanto, a emissão de uma tonelada de metano equivale a 28 toneladas de dióxido de carbono equivalente (tCO₂e). Essa padronização permite que todas as emissões sejam expressas em termos de tCO₂e. 


Como uma descarbonização gera um crédito de carbono? 


Para facilitar o entendimento, vamos comparar o processo de registro com um trabalho de conclusão de curso (o amor de todo acadêmico, o TCC) e a geração dos créditos de carbono com a produção de vinhos. 

O processo é semelhante ao desenvolvimento de um TCC na academia, realizado por todos os estudantes antes de se graduarem. Para gerar um crédito de carbono, primeiramente, desenvolvemos um projeto de carbono, equivalente ao projeto de TCC. Este deve ser registrado em um padrão internacional reconhecido, seguido de um monitoramento rigoroso dos resultados. Só então, os créditos de carbono são gerados. 


Desenvolvimento do projeto de carbono 


Assim como um TCC deve ser escrito seguindo as normas da ABNT e obedecendo o método científico, o projeto de carbono deve ser elaborado seguindo um template e as regras do padrão (Standard de Carbono) onde será registrado, este que funciona como a instituição de ensino na qual o aluno está se formando. O projeto deve descrever a atividade de descarbonização de maneira clara e transparente, utilizando uma metodologia de cálculo aprovada pelo Standard, garantindo que os impactos climáticos sejam corretamente dimensionados e que atividades similares sempre sigam os mesmos critérios. 


Validação e auditoria 


Assim como um TCC passa por uma banca avaliadora, composta por professores e especialistas, o projeto de carbono é avaliado por uma empresa de auditoria, reconhecida pelo Standard, chamada VVB (Validation Verification Body). Esta auditoria, conhecida como Validação, verifica se o projeto realmente existe e se está em conformidade com as leis nacionais e com as diretrizes do Standard. Esta etapa ocorre em diversas rodadas em que o VVB realiza pedidos de correções e esclarecimentos referente ao projeto de carbono. 


Registro e credibilidade 


Após a validação, o VVB informa ao Standard que o projeto está apto a ser registrado. Um projeto de carbono registrado é comparável a um diploma de graduação, consolidando as etapas anteriores e conferindo credibilidade ao projeto, proporcional ao prestígio e rigor do Standard de Carbono. 


Do parreiral ao vinho: a geração de créditos 


Após o registro, o projeto de carbono pode ser comparado de forma simplificada a um parreiral. Você ainda não tem o vinho – crédito de carbono – mas com um pouco mais de trabalho, poderá obtê-lo. O período de validade do projeto no Standard, chamado também de período creditício, é como o tempo de vida de um parreiral. Durante esse período, você pode realizar a etapa de monitoramento do projeto e gerar os créditos de carbono, assim como realizar a colheita das uvas e produzir o vinho. O monitoramento do projeto requer uma nova auditoria junto ao VVB, que quantificará a descarbonização realizada desde o registro do projeto, ou do último monitoramento, até a data do monitoramento em questão. 


Safras e qualidade dos créditos 


Assim como diferentes safras de vinho possuem qualidades variadas e premiações distintas, os créditos de carbono também podem ter características distintas, influenciadas por atributos de qualidade, chamados co-benefícios, e certificações adicionais. As safras dos vinhos estão equivalentes aos Vintages dos créditos de carbono, correspondendo ao ano de sua emissão. Já os co-benefícios correspondem a impactos positivos que vão além da descarbonização. Os créditos de carbono com certificações adicionais específicas permitem que sejam utilizados para fins específicos, como o programa Corsia, destinado à descarbonização da aviação civil internacional, semelhante a vinhos premiados que são vendidos em restaurantes e mercados exclusivos. 


Assim como o vinho ou até mesmo as diplomações estão presentes em nossa sociedade, a descarbonização também veio para ficar. Será cada vez mais comum a pauta climática em nossos debates e em nossas ações.  

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