Cerrado em Debate: soluções inovadoras para proteger um bioma sob pressão
- GSS
- 13 de mai.
- 5 min de leitura

Webinar reúne especialistas para discutir tecnologias, PSA e carbono como caminhos para conservar o Cerrado
O bioma Cerrado, considerado a savana mais biodiversa do planeta e peça-chave na regulação climática da América do Sul, foi o foco do webinar “Cerrado em Debate: Conservação, Monitoramento e Inovações Tecnológicas”, realizado no dia 07 de maio, às 10h30 da manhã. O evento reuniu especialistas, lideranças do setor ambiental e representantes de projetos no campo para refletir sobre os desafios e oportunidades na conservação desse ecossistema fundamental — hoje sob crescente ameaça.
Com 1h30 de duração, o encontro foi direcionado ao público em geral e buscou conectar conceitos técnicos a soluções práticas, com destaque para o uso de tecnologias de monitoramento ambiental, Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) e mercado de créditos de carbono como mecanismos inovadores de valorização da natureza.
O Cerrado em foco: um bioma estratégico, mas ameaçado
Abrangendo cerca de 22% do território nacional, o Cerrado é de fundamental importância para o país. Além de sua rica biodiversidade — com mais de 12 mil espécies de plantas, sendo 4.400 espécies endêmicas, e milhares de espécies animais, o bioma também é conhecido como Berço das Águas brasileiro, pois inclui 30% das nascentes do país e é responsável por alimentar importantes aquíferos que nutrem múltiplas regiões, sustentando uma parte significativa da agropecuária brasileira. Apesar de toda a sua grandeza, o bioma vem sofrendo com múltiplos fatores de degradação e taxas crescentes de desmatamento.
Segundo levantamento realizado pelo MapBiomas, o Cerrado teve uma perda líquida de 27,4% da vegetação nativa entre 1985 e 2023, principalmente nos últimos anos deste período. Em 2023, o bioma representou mais da metade de toda a área desmatada no país, superando a Amazônia e assumindo a liderança em área de desmatamento no Brasil. Neste cenário, destaca-se a conversão de cobertura e uso do solo na região do Matopiba, entre Bahia, Piauí, Tocantins e Maranhão, onde todos os estados possuem pelo menos 1 município com redução de vegetação nativa superior a 30%.
Associado a isso, a região do Matopiba tem assumido uma importância crescente na economia do país, uma vez que ela compõe a atual fronteira de expansão agrícola mais relevante do país. Segundo dados do MapBiomas, a agricultura aumentou em 6,3 vezes no bioma entre 1985 e 2023. Deste modo, ao falarmos das ameaças e soluções para a preservação do Cerrado é imprescindível incluir na discussão o desenvolvimento sustentável da agricultura para gerar uma produção livre de desmatamento, bem como de instrumentos que fomentem a preservação e a transformação cultural do setor agropecuário brasileiro.
Palestras que inspiram ação
O webinar contou com três palestrantes principais:
1. Debora Santos – GSS Impact Development
Especialista em Soluções Baseadas na Natureza (NbS) e mudanças climáticas da GSS, a painelista apresentou um panorama geral das ameaças ao Cerrado e apresentou a iniciativa do Arbaro Carbon, um projeto que visou facilitar o acesso de produtores rurais a inovações tecnológicas de monitoramento ambiental e instrumentos de pagamentos pela conservação da vegetação nativa em áreas de preservação permanentes (APP) e reserva legal (RL). O projeto é resultado de um consórcio realizado entre as empresas GSS e Treevia, com apoio financeiro do Land Innovation Fund (LIF), e teve seu início marcado pela iniciativa do Programa Soja Sustentável do Cerrado, promovido pelo LIF em parceria com a EMBRAPII.
Em sua fala, Debora destacou os principais desafios encontrados para a viabilização de instrumentos financeiros que valorizem a preservação da vegetação nativa, principalmente no âmbito de aplicação de metodologias de geração de créditos de carbono em áreas de APP e RL.
2. Esthevan Gasparoto – Treevia Forest Technologies
CEO da Treevia, o painelista apresentou um panorama geral sobre tecnologias de monitoramento florestal em projetos de carbono e explanou sobre a atuação da empresa na iniciativa Arbaro Carbon. Neste projeto, a Treevia foi responsável por desenvolver e implementar uma tecnologia de monitoramento florestal baseada em machine learning e Internet das Coisas, utilizando-se dispositivos de mensuração digital que medem o crescimento das árvores e monitoram o estoque de carbono na floresta.
3. Olivia Marques – ERA – Ecosystem Regeneration Associates
Project Manager da ERA, Olívia compartilhou aprendizados práticos do projeto de REDD+ implementado pela ERA no Cerrado (REDD Cerrado Program) e do projeto de crédito de biodiversidade Jaguar Biodiversity credits. A painelista destacou desafios como o engajamento de produtores locais, o mapeamento de áreas prioritárias e a conciliação entre conservação e geração de renda. Reforçou ainda o papel dos créditos de biodiversidade como instrumentos que reforçam as iniciativas de conservação da biodiversidade, de forma adicional aos créditos de carbono.
Créditos de Carbono no Cerrado
Através dos aprendizados obtidos na iniciativa Arbaro Carbon, a qual utilizou a metodologia SCM0003 do Social Carbon como modelo, e os insights compartilhados sobre o projeto REDD da ERA Brazil, pôde-se notar que o mercado de carbono no Brasil possui grande potencial, mas também grandes desafios. O bate-papo promovido pelos painelistas destacou os principais desafios enfrentados nos projetos de geração de créditos no Cerrado, tanto em projetos de desmatamento evitado (REDD), quanto em projetos de remoção de carbono. Fatores como altos custos de certificação, períodos longos de duração dos projetos e dificuldades no engajamento com os proprietários figuram entre os desafios apontados, além da dificuldade de viabilização de projeto que incluem inovações tecnológicas em seu escopo.
Tecnologia e inovação: aliados da conservação
Além disso, durante o debate, também se destacou a importância do alinhamento de tecnologias de monitoramento remoto — como plataformas como MapBiomas e uso de satélites e inteligência artificial — com tecnologias de monitoramento local, aumentando assim a acurácia dos dados e garantindo maior integridade aos créditos de carbono. A rastreabilidade e o monitoramento contínuo foram apontados como caminhos para fortalecer a confiança de financiadores e a credibilidade dos projetos.
Participação ativa do público e questões emergentes
O webinar contou com a participação ativa do público, que trouxe perguntas relacionadas à questão de incêndios no Cerrado e como isto pode ser mitigado em projetos de carbono, além de questionamentos sobre a quantificação de carbono no solo e sobre a adicionalidade de créditos de biodiversidade em áreas que já possuem projetos de créditos de carbono.
Reflexões finais e caminhos possíveis
O debate revelou um cenário de grandes desafios, mas também de oportunidades. Os palestrantes convergiram na necessidade de integrar conservação, tecnologia e valorização econômica do Cerrado, com o PSA, os créditos de carbono e créditos de biodiversidade como instrumentos-chave. Ficou claro que é possível alinhar preservação e desenvolvimento sustentável, desde que haja engajamento local, instrumentos financeiros eficazes e transparência nos processos.
Próximos passos
O evento encerrou com o convite à continuidade do diálogo e da colaboração entre sociedade civil, produtores, academia e setor privado. Iniciativas como essa demonstram que proteger o Cerrado é possível — e urgente.
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